A autora aborda o que acredita ser o marco de início da profissão
docente, durante o século XVIII
em um contexto sociopolítico característico (urbanização, democratização, entre
outros).
O movimento de democratização atingiu a escola, com a ideia de uma
educação para toda população. A alfabetização da população ocorreu com grande
força nos países do norte, enquanto a América Latina, possivelmente influenciada
por sua origem ibérica teve uma maioria de países que passaram pelo século XX sem universalizar a
educação.
Tomando o Brasil para exemplificar isto, até as décadas de 20 e 30, a
educação continuava sendo oferecida a uma minoria favorecida. Como colocado
pela autora, na constituição de 34, a obrigatoriedade do ensino já aparece, mas
nessa mesma década, apenas pouco mais de metade das crianças brasileiras foram
matriculadas na escola.
Esse cenário vai mudando na década seguinte, com a introdução dos
sistemas estaduais de ensino, e a consciência que o país começa a tomar sobre
seu atraso em relação ao ensino. No final do século o país atinge o percentual
de 97% das crianças matriculadas no ensino fundamental, mas isso não seria o fim
do desafio, o atraso escolar ainda hoje representa um grande problema a ser
resolvido, e certamente não é o único. Penin ainda ressalta que mesmo após
diversos avanços, ainda são necessários políticas públicas mais fortes, para se
alcançar os parâmetros que seriam considerados aceitáveis dentro de uma nação
socialmente justa.
Com o desenvolvimento da democratização da educação, foi também se
desenvolvendo a profissão docente, o professor aparece como sujeito do ensino,
mas a sua profissionalização ocorre muito depois do que em outras áreas. Somente
na LDB de 1996 a legislação nacional formaliza a formação de professores em nível
superior.
Na década de 80, já começam a surgir questionamentos tanto sobre o
trabalho do professor como dos professores. Esses questionamentos surgem como
reflexo de alguns movimentos, como o de ampliação do acesso a escola básica
para a população mais pobre (o que trouxe uma grande diversidade para a escola,
mudando o que havia até então), o que levou a um aumento na demanda por
professores com nível superior (que resultou em um aumento no número de
instituições de ensino superior privadas, muitas de baixa qualidade). E também
o inicio de um sistema nacional e estadual de avaliação dos alunos, o que
mostrou uma baixa eficiência de aprendizagem, que pode ser então relacionada
diretamente com a baixa qualidade das escolas. Os professores, principalmente
da rede pública, começaram a ser cobrados devido aos resultados ruins.
Penin concorda com as críticas feitas ao modo como a avaliação do ensino
foi feita, e o tratamento sempre parcial dado pela mídia nacional ao tema, mas
apesar disso escreve elegantemente e justifica porque os professores devem ter
tanto métodos de avaliação dos resultados de suas aulas para seu próprio
controle, como para o controle da sociedade.
Para muitas pessoas a educação é voltada para suprir o mercado econômico
(que faz parte da vida das pessoas, mas
não é A vida das pessoas), e as avaliações feitas sobre a educação também
possuem esse viés, que certamente não avalia de forma justa todas as crianças e
toda a diversidade que existe entre elas. Aqui deixo dois vídeos que podem
clarificar a ideia.
Após essa contextualização histórica sobre como se deu o desenvolvimento
da educação e da ideia de profissão docente, Penin inicia uma nova parte do
texto, onde aborda de que maneira se dá a construção da identidade docente, ou
do profissional docente, pois a
profissionalidade, segundo a autora, pode ser entendida como uma fusão dos
termos personalidade e profissão.
Durante o processo que se começa com a formação inicial e segue pela vida
com a formação continuada, o sujeito vai se deparar tanto com situações
estimulantes como conflituosas, com o processo transformando o próprio sujeito.
No texto consta que para entender a situação de trabalho precisamos
compreender condições objetivas (aspectos externos da profissão, como salário e
condições do local de trabalho), e condições subjetivas (o que deixa o
profissional feliz, triste, comovido, entre outras coisas em sua profissão).
Essas condições não são aspectos da profissão que não dialogam entre si, mas
sim motivações atuam sinergicamente com resultados finais que podem ser mais
positivos ou negativos.
Em pesquisa realizada por Penin, no caso específico da profissão docente,
os fatores subjetivos, como a relação com os alunos, parecem ser elementos de
satisfação dos professores, já os elementos objetivos, como a baixa
remuneração, são considerados como fatores de insatisfação pela classe docente.
Outro elemento de insatisfação, só que no campo das condições subjetivas, seria
o baixo rendimento dos alunos, relacionado com o objetivo do profissional que é
a aprendizagem dos estudantes.
Em uma profissão que parece estar em desequilíbrio, as melhorias nas
condições, tanto extrínsecas como intrínsecas é urgente para o bom
desenvolvimento das atividades dos professores. Muitos dos problemas são
complicados de se resolver sem um profundo comprometimento político, mas outros
podem ser resolvidos dentro da própria escola, usando a autonomia já garantida
pela legislação vigente. Com isso em mente, a formação continuada surge com
grande importância para assegurar a satisfação dos profissionais docentes em
seu trabalho.
Novamente, cabe ressaltar que existe uma forte relação entre os fatores
objetivos e subjetivos, e que os mesmos não são estáticos no tempo, mas vão
mudando conforme a própria estrutura da sociedade muda. Assim, existem
problemas históricos que já podem ter sido resolvidos, outros que ainda não
foram, e muitos problemas que estão surgindo agora. O conhecimento amplo de todas
essas condições é fundamental para entender como se dá a interação do sujeito
com sua profissão, e evitar que caia em desencanto com a mesma.
Na formação inicial do professor ele é exposto e se expõe ao conhecimento
sistematizado proveniente de diversas áreas, conhecimentos estes que serão
revividos e repensados durante a formação continuada. Além deste tipo de
conhecimento sistematizado, o professor e sua forma de trabalho ainda serão
afetados por vivências práticas relacionadas ao seu cotidiano e por suas
ideologias. O importante é o professor saber que seus conhecimentos
sistematizados podem e devem ser sempre reavaliados.
O educador não pode estar fechado a um tipo só de modo de ensino, cada
nova aula, cada nova turma, representa um novo desafio, em que os atores
escolares trazem novas vivências que devem ter peso no momento da realização da
prática do ensino. Essa compreensão pode ajudar o professor na visualização das
soluções para os problemas vividos na sua atuação escolar. Enfatizando que
problemas estes, serão diferentes de escola para escola, e estarão sempre
necessitando de novas formas de solução.
Olá Ronaldo,
ResponderExcluirestá ótima a tua resenha crítica.
Abraços,
Profa. Nádie